Por Bianca Andrade

Foto: Divulgação
A arte do Samba Junino será objeto de estudo em Salvador. O fazer artístico, que teve origem no samba de roda e se tornou uma das tradições do São João na capital baiana, ganhará a primeira escola dedicada ao estilo, com uma programação de formação e inclusão social e oficinas gratuitas de percussão, canto, violão e expressão corporal.
Localizada no Garcia, o espaço será inaugurado nesta terça-feira (17), às 16h na sede do Instituto Cultural e Carnavalesco MUCUM’G, localizado na Rua Padre Domingos de Brito, 4 D, Garcia.
"A Bahia — com sua singularidade rítmica, estética e simbólica — inspira a missão do Instituto MUCUM’G: preservar, inovar e difundir as tradições culturais de matriz africana. Da teatralidade da puxada de rede à intensidade do maculelê, passando pela musicalidade ancestral do samba e a energia ritual da capoeira, o Instituto constrói pontes entre passado e futuro, território e identidade", afirma Nonato Sanskey, fundador do MUCUM'G.
Considerado como patrimônio cultural de Salvador desde 2018, o Samba Junino é tema de pesquisas acadêmicas na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em entrevista ao Bahia Notícias em maio deste ano, o professor de Música e Mestre em Etnomusiologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gustavo Melo, explica que o samba junino é mais próximo do Cabila, ritmo executado em terreiros, e samba duro, e teve origem no Samba de Roda.
Ao site, Vagner Shrek, gerente de projetos da Liga de Samba Junino, fundada em 2011, defende a delimitação do samba junino, para garantir a sobrevivência da arte. Atualmente 21 dos 171 bairros de Salvador promovem a expressão artística.
“O samba junino não é qualquer grupo de samba que se manifesta no período junino. Ele tem características próprias do segmento, a utilização do timbal, do tamborim, do surdo, é a característica do instrumento. A questão das indumentárias, o samba junino geralmente ele traz temas para a rua.”
Na mesma entrevista, Jorge Bafafé, idealizador do Festival de Samba Duro Junino do Engenho Velho de Brotas, junto ao irmão Mário Sacramento, afirmou que o evento, que completa 47 anos em 2025, é uma resistência a arte e as manifestações culturais afro-brasileiras. O músico também reforça a necessidade de destacar a diferença entre o samba junino e os sambas promovidos em junho.
“Somos diferenciados até para as suas músicas, como é cantada, é uma coisa ancestral mesmo. São músicas feitas com a nossa identidade, falando da nossa terra, falando do nosso convívio, no sentido de divulgar mesmo o São João da gente. Não é um São João que tem sanfona, zabumba, é um São João que tem tambores [...] Nós colocamos [o nome] de Samba Duro Junino justamente para estancar o pagode, e aqui com a gente só participa samba junino. A gente sabe o que é samba junino e sabe o que é pagode. Até porque, quando vocês estão lá fazendo pagode, vocês não convidam o samba junino, e como é dia do samba junino e nós vamos botar pagode? Não tem nada a ver”, destaca. “Nós não vamos jogar por água abaixo uma coisa que nós criamos.”
Desta forma, a 1ª Escola de Samba Duro Junino de Salvador, vem com o propósito de propagar a arte. "O Instituto MUCUM’G firma-se como um agente transformador e um centro de valorização da cultura baiana, atuando como elo entre a tradição e a inovação artística", pontua Nonato.
Além da formação na escola de Samba Junino, o Instituto pretende dar continuidade nas atividades complementares como encontros, seminários e ações mobilizadoras, promovendo o diálogo, a conscientização e a participação ativa da sociedade civil.