Por João Pedro Pitombo, Renato Machado e Marianna Holanda | Folhapress
Foto: Reprodução/Ricardo Stuckert
Depois de um primeiro turno longe dos palanques, o presidente Lula (PT) decidiu se engajar na campanha eleitoral, priorizando cidades onde o PT e partidos aliados tenham mais chances de vitória neste segundo turno.
Por outro lado, há que manter distância de cidades onde o cenário é considerado difícil, caso de Porto Alegre, e capitais em que uma visita do presidente poderia prejudicar a campanha, como Cuiabá.
Entre interlocutores de Lula, há uma avaliação de que embarcar em campanhas com menos chances de prosperar pode trazer uma derrota para o colo do presidente.
A participação de Lula no segundo turno será encurtada em razão da viagem à Rússia para participar da cúpula dos Brics, a partir da próxima terça (22). O mandatário fica fora do país ao longo da semana, voltando apenas para fechar a campanha de Guilherme Boulos (PSOL).
Nos últimos oito dias, o presidente fez um périplo por seis cidades: Fortaleza, Natal, Camaçari (BA), Mauá (SP), Diadema (SP) e São Paulo. O engajamento contrasta com o primeiro turno, quando Lula fez campanha presencial apenas na capital paulista.
Os aliados cobraram maior participação do presidente, sobretudo após o desempenho do PT, considerado abaixo das expectativas no primeiro turno. O partido não venceu em nenhuma capital e chegou ao segundo turno em 13 cidades, incluindo Fortaleza, Natal, Cuiabá e Porto Alegre.
Em geral, o presidente tem feito dobradinhas entre agendas institucionais do governo durante o dia e comícios à noite. Esse formato foi utilizado em suas passagens pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e São Paulo.
Questionada sobre os custos das viagens, a Presidência da República informou que ainda está levantando informações das agendas e que o custeio das despesas observará o prazo e os procedimentos previstos na legislação eleitoral.
Auxiliares palacianos argumentam que, com uma agenda institucional engatilhada, o partido não é obrigado a ressarcer os cofres públicos com os gastos de deslocamento, combustível e segurança.
No tour ao longo dos últimos dias, Lula trabalhou para alavancar velhos aliados e intermediar caras novas do partido.
A estratégia principal, segundo interlocutores do Planalto, era fortalecer campanhas petistas ou mesmo de aliados da chamada frente ampla em locais onde o adversário é um bolsonarista ou símbolo da direita mais radical.
A primeira agenda foi no dia 11 em Fortaleza, o maior colégio eleitoral disputado por um candidato do PT. O deputado estadual petista Evandro Leitão trava uma disputa acirrada com o deputado federal André Fernandes (PL), representante do bolsonarismo.
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (17) aponta empate técnico --André Fernandes aparece com 45% das intenções de voto contra 43% do petista. Leitão deixou o PDT para se filiar no ano passado no PT.
Na quarta-feira (16), Lula desembarcou em Natal para alavancar a candidatura de Natália Bonavides (PT), deputada federal em segundo mandato e vista como uma das principais promessas de renovação no partido.
Ela disputou o segundo turno contra Paulinho Freire (União Brasil), apoiado pela base bolsonarista. No primeiro turno, Bonavides ficou em segundo lugar, mas petistas avaliam que a candidatura está numa crescente.
“A eleição da Natália é a volta por cima que a gente vai dar”, disse o presidente, que comparou a decisão de votar em um candidato a prefeito à escolha de um padrinho ou madrinha para o filho.
Lula passou no dia seguinte à Bahia por um antigo aliado: Luiz Caetano (PT), que concorreu à Prefeitura de Camaçari pela quarta vez. Uma cidade de 300 mil habitantes é o berço do PT baiano. No primeiro turno, Caetano teve 49,5% dos votos contra R$ 49,1% de Flávio Matos (União Brasil).
O presidente ficou distante da Bahia no primeiro turno e teve uma atuação tímida, com um único vídeo gravado, para o candidato a prefeito de Salvador Geraldo Júnior (MDB), que encerrou a eleição em terceiro lugar mesmo com o apoio do PT.
Em Camaçari, Lula foi recebido em um megacomício com uma multidão vestida de vermelho e empunhando bandeiras do PT. Chorou no discurso ao relembrar da própria trajetória, fustigou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e chegou a afirmar que "ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo".
Nesta sexta-feira (18), após cumprir uma agenda administrativa em São Paulo, Lula foi para Mauá e Diadema para participar de comícios e alavancar as respectivas candidaturas dos prefeitos Marcelo Oliveira (PT) e José de Filippi Junior (PT).
O presidente retornou a São Paulo no sábado (19) para participar de caminhada no Grajaú e na Cidade São Mateus ao lado de Boulos, mas foram canceladas em virtude das fortes chuvas. Ele fez uma live ao lado de Boulos.
O presidente, por outro lado, saiu de Porto Alegre, onde Maria do Rosário (PT) disputou o segundo turno contra o atual prefeito, Sebastião Melo (MDB). Inicialmente considerada como uma das apostas do PT, por causa do desgaste de Melo com as enchentes do primeiro semestre, o petista não conseguiu deslanchar.
O Planalto chegou a avaliar a viagem de Lula a Porto Alegre, para a reabertura do aeroporto Salgado Filho. Decidiu, no entanto, priorizar os eventos em São Paulo.
Lula também deixou de fora de seu roteiro eleitoral a região Centro-Oeste, em particular Cuiabá, onde Lúdio Cabral (PT) surpreendeu e avançou ao segundo turno contra o bolsonarista Abílio Brunini (PL). O petista esteve em Brasília logo após o primeiro turno e gravou vídeos com o presidente.
Integrantes do PT avaliam que não valeria o esforço de convencer Lula a visitar Cuiabá, em particular ao considerar a eliminação que o presidente enfrentará na região --um dos centros do agronegócio, simpático a Bolsonaro.
Em um reduto conservador, Lúdio Cabral gravou vídeo no qual se opõe ao aborto, à legalização das drogas e diz ser contra a "ideologia de gênero" nas escolas, parte central do discurso bolsonarista. Um de seus principais cabos eleitorais é o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), cuja filha Rafaela é vice na chapa petista.
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