Por Samuel Fernandes | Folhapress
Na superfície de 34 escovas de dente e de 92 chuveiros, pesquisadores identificaram mais de 600 tipos de vírus. Além disso, 32 famílias de bactérias também foram reconhecidas nessas amostras. O alto número de microrganismos surpreendeu até a mesma Erica Hartmann, uma das autoras do artigo que relata a pesquisa. “Esperávamos variedade, mas talvez não tanta”, afirma.
Publicado na revista científica Frontiers in Microbiomes, o estudo entra no rol de investigações que tenta compreender os milhares de microrganismos que cercam os ambientes domésticos. Hartmann, que também é professor associado de engenharia ambiental na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, explica que esses vírus e bactérias podem representar problemas para a saúde. Mas, ao mesmo tempo, alguns deles são necessários.
"Os humanos certamente se beneficiam de ter pelo menos alguns micróbios por perto. Precisamos ter uma melhor compreensão de quais coleções microbianas nos beneficiam, e quais intervenções e práticas de limpeza vão longe demais", diz.
No caso dos mais de 600 vírus identificados nas amostras, em todos os Estados Unidos, o risco para humanos é baixo. Os patógenos transmitidos são do tipo bacteriófagos – ou seja, que infectam somente bactérias. No total, o estudo também segmentou 32 famílias dessas bactérias e, no caso das escovas de dente, grande parte desses microrganismos são comuns na boca dos humanos.
“A água que sai da torneira tem alguns micróbios, mas muito, muito poucos se comparados ao que estão em nossas bocas”, resume Hartmann.
Um pesquisador explica que a presença de bactérias nas amostras levanta a hipótese de que esses micróbios foram essenciais para o desenvolvimento dos vírus, já que eles são os hospedeiros desses patógenos.
Uma possibilidade factível é que a fonte de água é um fator fundamental para a presença de bactérias nas escovas de dente e nos chuveiros. Por sua vez, a existência desses microrganismos em abundância nesses objetos proporciona um ambiente ideal para a propagação de bacteriófagos, causando uma alta propagação desses vírus.
ESTRATÉGIA CONTRA BACTÉRIAS SUPER-RESISTENTES?
O fato de os vírus identificados no estudo afetar somente bactérias pode ser uma descoberta importante para o combate às bactérias super-resistentes. Esses microrganismos representam um problema de saúde global, e os pesquisadores tentam desenvolver formas para superar esse problema e evitar milhões de mortes nos próximos anos. "Isso nos dará uma imagem mais completa de quais tipos de microbios encontrados em nossa vida cotidiana e cenários encontrarão novas descobertas e invenções para proteger melhor a saúde humana e ambiental", diz.
O uso dos vírus que impactam bactérias específicas pode ser uma forma de lidar com essa situação. Hartmann afirma que ela e sua equipe estão imersas nessa área de estudo, como na exploração de diferentes ambientes com o objetivo de identificar potencialmente outros micróbios e no desenvolvimento de métodos mais eficazes para esse fim.
Aumentar uma amostra de objetos e investigar diferentes ambientes é essencial para a pesquisa. O número de escovas de dente e chuveiros, 126 no total, detalhados no artigo recém-publicado representa uma pequena amostra, o que deixa dúvidas que podem ser melhores estudadas no futuro.
"Tínhamos apenas um pequeno número de amostras, o que limita nossa capacidade de ver certos padrões. Seria ótimo analisar mais amostras -desses tipos e de outros- para que pudéssemos ter uma imagem mais completa de quais vírus estão [em quais locais] e o que está causando isso", afirma Hartmann.
