Arte/Metrópoles

São Paulo — Em um “salve geral” do Primeiro Comando da Capital (PCC) apreendido nesta semana, na Penitenciária de Parelheiros, zona sul de São Paulo, integrantes da facção criminosa explicam a motivação do plano de ataque a policiais penais que trabalham no sistema prisional paulista.
Como mostrou o Metrópoles nesta sexta-feira (11/10), cartas semelhantes a que foi interceptada no presídio de Parelheiros também teriam sido encontradas em outras unidades prisionais, ainda não especificadas. Os “salves” já são monitorados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MPSP).
Em um trecho do “salve” apreendido, ao qual a reportagem teve acesso, a Sintonia Final do PCC afirma que irão ocorrer “represálias na rua” resultantes “do que estão fazendo com nosso irmão Marcola”, referindo-se a Marco Willians Herbas Camacho, líder máximo da maior facção criminosa do país.
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A Sintonia Final é composta por líderes da cúpula do PCC, que usam a instância máxima do crime para tomar decisões e ordenar suas execuções dentro e fora dos presídios.
Marcola está detido atualmente na Penitenciária Federal de Brasília (DF), onde permanecia em regime de isolamento prolongado, ao menos até o mês passado, como consta em uma petição encaminhada ao juiz corregedor da capital federal, obtida pela coluna Na Mira, do Metrópoles.
O documento afirma que, desde março, o líder máximo do PCC permanecia em isolamento total, incluindo o convívio com outros presos. Os advogados de Marcola alegam, ainda na petição, que a solidão do cliente estaria impactando em sua saúde mental.
Isso reforça os argumentos do “salve” apreendido na capital paulista, na semana que passou.
“Paz para todos”
Datado de 17 de setembro, o “salve” da facção paulista primeiramente deseja “paz para todos os integrantes do PCC” direcionando a mensagem para os “respectivos jets”, em referência aos criminosos responsáveis pelos presos de pavilhões ou raios dos presídios para os quais a mensagem foi direcionada.
“Os tiranos vem nos oprimindo e todos nós sabemos que o sistema está em alerta há uns anos. Onde que não somos refém de ninguém [sic] e em cima dessa causa que estão fazendo com o nosso irmão Marcola vão ter represálias na rua”.
Para isso, como já mostrado pelo Metrópoles, o “salve” ordena para que os “jets” providenciem o levantamento dos nomes e endereços de dois agentes por unidade prisional, no prazo de 30 dias, que vencem no próximo dia 17/10.
Há, ainda, outra determinação no documento apreendido na penitenciária da zona sul paulistana. Os “jets”, também com “caráter de urgência”, devem informar se as unidades onde estão presos há bloqueadores de sinal de celular, além de condições de não deixar rastros ou provas da articulação feita para os eventuais ataques. O “salve” também solicita que seja especificada “a dificuldade dos irmão” [sic] para cumprir a missão.
“Daremos todo o suporte para que colocaremos [sic] a unidade no ar [fique com comunicação] onde com caráter de urgência nos manda [sic] esse requisitos citados acima. Ass: Sintonia Final.”
Agentes de prontidão
Após as apreensões dos bilhetes, os agentes penitenciários de São Paulo ficaram alertas e estão de prontidão.
Fábio Jabá, presidente do sindicato que representa a categoria, afirmou ao Metrópoles, nesta sexta-feira (11/10), que a dinâmica do trabalho dos agentes os deixa expostos e sem segurança quando estão nas ruas.